1. LAÇOS QUE (SE) DEFLAGRAM, NÓS QUE (SE) CICATRIZAM: SIGNOS DA INQUIETANTE NATUREZA HUMANA NO HIMINEU LITERÁRIO DE CLARICE LISPECTOR
Dia 16 de outubro de 2024 - 08h - 10h (Auditório 411)
- Prof. Dr. Frederico de Lima Silva (UFPB/LIGEPSI)
- Profa. Ma. Letícia Simões (UFPB/LIGEPSI)
- Prof. Dr. Eider Madeiros (UFPB/LIGEPSI)
RESUMO: Clarice Lispector é, indiscutivelmente, uma das vozes de maior expressão na literatura nacional, cuja escrita é alvo, privilegiado, de inúmeros questionamentos críticos, seja para qualificá-la como uma entidade excêntrica, genial e intimista, seja atribuindo-lhe a alcunha de "escritora alienada", indiferente às questões sociais do seu tempo. Polêmicas à parte, é factível que a sua produção literária marcou (e sedimenta com delicada violência) o cotidiano de muitos leitores, graças, sobretudo, ao engenho esplâncnico de sua obra, a qual se arrima em personagens nitidamente complexos e multifacetados, em movimentos constantes, imersos numa busca deteriorante de si mesmos, capazes de inquietar quem se debruça sobre elas, pois tendem a tocar os mais profundos recessos da mente humana, ao descorporificar, em palavras e silêncios, a identidade, a consciência, o amor e a morte. Dotados de uma ambiguidade singular, que coloca os leitores em uma posição de constante introspecção e autoquestionamento, os protagonistas lispectorianos estão sempre refletindo sobre suas próprias emoções, pensamentos e sentimentos, afetos hábeis em direcioná-los para/por caminhos que, não raras vezes, contrariam à opaca racionalidade de quem lê a palavra, apesar dos (in)oportunos avisos, como significante preciso e absoluto. Assim como nós (em megalomania e aquiescência), são dotados das típicas vicissitudes/mazelas humanas, que os fazem submergir em conclusões (ou delírios lúcidos), quase sempre, responsáveis por desassossegar desde o leitor menos atento àquele que se inclina totalmente à narrativa. Diante dessa condição heterogênea da poética de Clarice Lispector, esta mesa busca, ao alinhar a literatura aos processos mentais oportunizados pela teoria psicanalítica, desenvolver algumas ponderações em torno de como as narrativas A quinta história, Uma amizade sincera e O primeiro aluno da classe mimetizam a dinâmica dos laços humanos, configurando-a de forma ímpar, dissolvendo-a em itinerários que estão substanciados em relações que vão desde àquelas mais harmoniosas, às mais terríficas e indeglutíveis, do ponto de vista do senso comum, mas que Clarice, em sua acuidade literária, teve a ousadia de fazer refletir como elementos próprios da natureza humana.
2. NO HORTO DA AGONIA, OS MORIBUNDOS CONQUISTAM A SALVAÇÃO: A OPULÊNCIA DA MORTE NA LITURGIA LISPECTORIANA
Dia 16 de outubro de 2024 - 10h - 12h (Auditório 411)
- Profa. Ma. Maria Aparecida (UFPB/LIGEPSI)
- Profa. Regina Vitória (UFPB/LIGEPSI)
- Profa. Larissa Karen (UFPB/LIGEPSI)
RESUMO: As cálidas linhas da escrita lispectoriana traz para os ávidos expectadores de sua obra a oportunidade de singrar no mundo de seus personagens e perceber os dramas vividos, as indagações e incertezas existenciais que perfilam a vida humana e rasgam a alma como se fosse um fio em direção longitudinal que sofre tensões, e por consequência, forma um triângulo reteso que tenta resistir a forças imperiosas das circunstâncias da vida. A sua escrita no campo literário é circunscrita pela individualidade com contornos meditativos e introspectivos que tratam interruptamente da dicotomia: vida e morte, das relações enigmáticas entre os seres, alguns constituídos por emoções gelatinosas que deixam na vida daqueles que o visita rastros de dor, solidão, perda, devastação enternecedora que desola e degrada o aparelho psíquico. Nesse intercurso, nossa mesa traz a partir dos contos O delírio (1940), O grande passeio (1961) e Um dia a menos (1977) a proposta de consubstanciar uma incursão sobre a pulsão de morte, a partir da dimensão psicológica, ao operar uma dinâmica no inconsciente, percutido nos personagens as adversidades de lidar com a realidade e se outorga há uma condição de morte psicológica. Nesse ensejo nossa discussão permeará por reflexões sobre a perda e a solidão, a temática morte será direcionada na busca de mostrar a forma sútil e poética com que Clarice trata o assunto, ao transparecer nas linhas que tecem sua escrevedura a finitude da vida, a incerteza da morte, em paralelo a sua inevitabilidade formatando o pulsar dos corpos que impulsiona o indivíduo no limiar entre a palavra e o silêncio.
3. DA TRÊMULA CARNE, DAS SACRAS ENTRANHAS, DO (IN)SUPORTÁVEL CORPO: ERUPÇÕES DO FEMININO NOS PROSPECTOS LICENCIOSOS DE CLARICE LISPECTOR
Dia 16 de outubro de 2024 - 14h - 16h (Auditório 411)
- Prof. Ma. Wanessa de Góis Moreira (UFPB/LIGEPSI)
- Profa. Ma. Maria Gomes Medeiros (UFPB)
- Profa. Rita de Cássia (UFPB)
RESUMO: No clamor iridescente de suas criações, ao evocar os fulgores da irrupção simbólica, em seus silêncios bramantes, a escrita de Clarice Lispector formaliza as (dis)sintonias atrozes da experiência humana, mortificando, mormente, o feminino a retalhar-se no (in)suportável peso de sua carne. Com efeito, se por uma instância as protagonistas lispectorianas narram as suas próprias chagas infames, (des)compassos presentes no livro Perto do Coração Selvagem (1943), com o vislumbre da perseguição de Joana pelos semblantes de sua constituição, há muito, errante, por outro prisma, a escritora urde a experiência das personagens intermediadas por narradores versados na introspecção lírica, como no conto Amor (1960), em que descreve-se a vida, até então anestesiada de reflexões, de uma anônima senhora, vítima da urgência de um sentido outro, que não, o de si mesma. Em ambos os sentidos, insinua-se, todavia, que apesar dessa versatilidade inigualável, tanto a nível intratextual quanto a intertextual, uma voz do sublime, quiçá, inascível, persiste em se manifestar, nas contradições de seu próprio teatro: o âmago transgressor do feminino. Dessa maneira, a presente mesa-redonda tem o objetivo de dialogar sobre as afetações catárticas do feminino lispectoriano, ao eleger três narrativas capazes de auscultar as catedrais ruidosas que conjuram a (de)sacralidade de nossas personagens, passíveis de serem vislumbrantes a partir da teoria literária e dos aportes teóricos da psicanálise, ciências que se deixam afetar pelo, ainda, insubordinado continente negro.