1. EM FUGA, PELA SALVAÇÃO, COM A ILUSTRE COMPANHIA DA NOITE: O INVENTÁRIO DO SILÊNCIO OUTORGA, NOS PÚLPITOS LISPECTORIANOS, OS GRITOS PIEDOSOS DE SEUS MÁRTIRES

Virtual - 14/11 e 15/11 (9h)

Ministrante: Prof. Me. Matheus Pereira (UFPB/LIGEPSI)

Resumo: Na imprudência mortífera da palavra, nascedouro e básculo da distensão do simbólico, lugar da exasperação sibilante do silêncio, urdem-se, sorrateiramente, os terrores mais arcaicos da existência, untados pela primitividade exangue do vazio, aptos a devorar as (des)ilusões da realidade e suas certezas (in)violáveis. Em verdade, no silente exílio da inconsciência, fremem-se os desvarios da memória, ecos saudosos d'outrora que se distendem em bramidos queixosos, languidamente hemorrágicos, filhos do encripto contato com o desconhecido, cujos sentidos, amalgamados à matéria bruta dos afetos, emergem-se à escuta dos testemunhos incautos e despretensiosos, a partir do exógeno jogo, inserto e implacável, em ebulição nas auspiciosas escrituras literárias. Dentre estas, exaltam-se as malhas imperiosas confeccionadas por Clarice Lispector (1920-1977), artesã-masoquista do significante, do edifício linguageiro, o qual, pelas dilaceradoras mãos da escritora, expropria-se da razão ao invocar o indizível, numa desordenação estética do campo sintático, na tentativa de exprimir a "coisa", que eternamente espera seu nome. No dulçor cáustico dessa alquimia, germina uma escrita do silêncio capaz de evidenciar, não somente, as angústias dos primeiros tempos, evidentes nos recorrentes testemunhos do ignoto catártico, mas, especialmente, o desaguar orgiástico do medo e sua incondicional (in)familiaridade, em enredos nos quais a voz narrativa explora o horror agrilhoado ao cotidiano (in)salubre, deformado em súplicas emudecidas, volúveis e reunidas no Sabat de suas criaturas noturnas. Eis os cenários, não paradisíacos, tampouco luminosos (todavia, sobremaneira convidativos), que exploraremos neste minicurso. Para tanto, traremos à baila três narrativas lispectorianas, Onde estivestes de noite (1974), Silêncio (1974) e A mensagem (1964), diegeses que se voltam aos degredos do terror, espargindo-se numa poética devota ao silêncio e sua contraditória evocação. Logo, munidos dos constructos teóricos da psicanálise, em sua constante dedicação ao inconsciente, ousaremos explorar as insólitas grutas do horror, engenhosamente ornadas pela magia clariceana.

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